Campanha Agosto Branco combate o tabagismo e foca também nos cigarros eletrônicos

Um em cada quatro brasileiros de 18 a 24 anos, já experimentou o "vape"

Saúde em primeiro lugar

Agosto se inicia e traz com ele a campanha Agosto Branco, que pretende conscientizar a população sobre o câncer de pulmão.

Estima-se que o câncer de traqueia, brônquio e pulmão, para o triênio de 2023 a 2025, possa chegar a 32.560 novos casos a cada ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer do Rio de Janeiro (Inca), do Ministério da Saúde.

Apenas no estado do Rio de Janeiro, o número estimado dos casos de tumores de traqueia, brônquio e pulmão, em cada ano do triênio 2023/25, chega a três mil novos pacientes, sendo 1.550 do sexo masculino e 1.450 do sexo feminino.

Tabagismo

Segundo o médico oncologista clínico do Inca, Luiz Henrique Araújo, a maioria dos casos desse tipo de câncer está ligado ao hábito do tabagismo. Em sua avaliação, o médico conta que as campanhas antitabagistas são de fundamental importância para minimizar o risco de câncer de pulmão.

“A campanha é essencial para a gente fazer a conscientização sobre o câncer de pulmão, principais sinais e sintomas e, principalmente, sobre como preveni-lo. É uma doença extremamente prevenível”, afirmou o oncologista, ao site Agência Brasil.

Para os fumantes que tem entre 55 e 70 anos, é recomendada uma tomografia anual de baixa dose do tórax, que é capaz de detectar lesões em estágio inicial.

Foto: Kruscha/Pixabay

Prevenção

A oncologista torácica da Oncoclínicas, Tatiane Montella, ressalta que o câncer de pulmão tem relação muito forte com o tabagismo.

“Oitenta por cento dos pacientes tiveram alguma exposição ao tabagismo. Por isso, é tão importante falar sobre esse tema, porque a prevenção é a principal ação para diminuir o número de pacientes com câncer de pulmão”, afirmou à Agência Brasil.

Ela conta também que os 20% restantes, são de pacientes sem qualquer relação com o fumo, e que possivelmente, essa parcela dos pacientes, tem um erro na estrutura do DNA ou do RNA do tumor, fazendo as células se proliferarem de maneira errada. A causa desse erro continua sob análise.

Para a oncologista, a melhor maneira de prevenção é não fumar ou parar de fumar quanto antes, para que se evite a neoplasia de pulmão.

“O Brasil foi, durante muitos anos, o país que teve orgulho de suas políticas antitabagistas, que diminuíram muito a incidência do tabagismo, e isso foi propagado como referência internacional”.

Atualmente, o Brasil se vê diante de uma nova onda de tabagismo, agora alimentada pelo cigarro eletrônico, que vem acometendo, principalmente, a população com idade entre 18 e 24 anos.

Cigarro eletrônico

Embora exista o apoio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibindo a comercialização do cigarro eletrônico, também conhecido por “vape”, o consumo entre os jovens desse tipo de cigarro vem crescendo vertiginosamente.

“O que a gente vê, nos últimos dados epidemiológicos, é que a incidência do cigarro eletrônico vem aumentando nessa população jovem que, de fato, está tendo uma maior exposição”, afirma Montella.

Ainda não se tem noção das consequências do uso prolongado do cigarro eletrônico, já que é uma tecnologia muito recente, porém, no curto prazo, o uso contínuo pode trazer doenças pulmonares intersticiais agudas e, a longo prazo, relação direta com o câncer de pulmão e outros tipos de câncer que o cigarro pode causar.

Foto: Ministério da Saúde/Divulgação

Estudos sobre o “vape”

A Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em parceria com a organização global de saúde pública Vital Strategies, realizou um estudo em 2023, mostrando que, pelo menos um em cada quatro brasileiros de 18 a 24 anos, já experimentou cigarro eletrônico.

O crescimento do uso dos cigarros eletrônicos pelos jovens vem se tornando tendência, confirmada pelo médico Luiz Henrique Araújo, já que existe a sensação de ser um produto diferente do cigarro.

“Mas já está mais do que demonstrado que ele também libera substâncias carcinogênicas e está associado tanto a doenças pulmonares letais não oncológicas, como oncológicas. Na campanha antitabagismo entra o cigarro eletrônico, atualmente mais em voga”, ao site Agência Brasil.

Para o oncologista do Inca, a medida da Anvisa adotada contra a entrada do cigarro eletrônico no Brasil foi fundamental, porém, como o produto tem uma aceitação muito forte nos países europeus e nos Estados Unidos, o “vape” está disponível e as pessoas continuam usando, o que vem criando uma geração de futuros pacientes de câncer de pulmão.

Araújo completa que em sua grande maioria, os casos de câncer de pulmão são assintomáticos e descobertos por acaso. O sintoma mais comum é a tosse, que pode ser associada a uma bronquite crônica, a um pigarro pelo tabagismo. Mas quando a tosse piora ou é acompanhada de sangue no escarro, é aconselhável uma visita ao médico. Sintomas menos frequentes podem apresentar falta de ar, perda ponderal, febre e dor no tórax.

Foto: Sarah Johnson/Pixabay

Letalidade

Apesar de todos os avanços da medicina, com a inserção de novos procedimentos e novas drogas que permitem controlar vários casos de câncer, quando a doença afeta o pulmão, a letalidade é bastante alta.

“A gente tem aí mais de 30 mil casos novos por ano de câncer de pulmão e tem em torno de 30 mil óbitos por ano. É uma letalidade muito alta”, ressaltou Luiz Augusto Maltoni, diretor executivo da Fundação do Câncer, ao Agência Brasil.

Maltoni lembra ainda que 80% dos casos de câncer de pulmão são diagnosticados já em estágio avançado, por isso, é muito importante que a população seja alertada para a prevenção, evitando o principal agressor do desenvolvimento do câncer de pulmão, o cigarro, com foco agora também no cigarro eletrônico.

No dia 29 de agosto se comemora o Dia Nacional de Combate ao Fumo e a Fundação do Câncer vai preparar uma campanha com foco nos malefícios do cigarro eletrônico, que será divulgada nas mídias, com o nomeVape off”.

Segundo Maltoni, um desafio universitário envolvendo faculdades de todo o país, para apresentarem projetos que sensibilizem a sociedade, em particular os jovens, sobre os malefícios do cigarro eletrônico.

“A gente evoluiu tanto, reduzimos bastante o número de fumantes no Brasil e não podemos agora retroceder nessa pressão da indústria com o cigarro eletrônico, deixando aparecer uma nova juventude que acha que esse ‘vape’ é menos problemático. A gente daria dez passos para trás. Essa é uma preocupação de todos nós”, avaliou o médico.

Gustavo Campos: Nascido em Esmeraldas e criado em Betim. Formado em Jornalismo no ano de 2009 pelo Centro Universitário Newton Paiva, tem passagem como repórter pelas redações dos jornais O Tempo, Jornal Super Notícia e Jornal Aqui Betim. No Jornal Turismo de Minas, exerceu as funções de editor e repórter. Em ambas empresas, escreveu para as editorias de Cidades, Polícia, Gerais, Cultura e Gastronomia.