Tupinambás farão cerimônia no Museu Nacional para receber manto sagrado

Peça foi levada do Brasil no ano de 1689

Reparação

De volta ao Brasil, o manto sagrado Tupinambá, levado pela Dinamarca no século XVII, e devolvido ao Brasil este ano, será finalmente devolvido ao seu povo, os Tupinambás de Olivença.

A devolução será feita em uma cerimônia marcada para os dias 10, 11 e 12 de setembro.

Desde que foi devolvido pelo país europeu, o artefato está sob a guarda do Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Peça histórica

Uma polêmica envolvendo os indígenas e a direção do Museu Nacional, aconteceu no retorno do manto. Por ser considerado uma peça histórica de um ancião, que será devolvida ao seu povo, os Tupinambás gostariam de estar presente quando a peça foi devolvida, em sua chegada ao Brasil, no dia 11 de julho deste ano, porém, o Conselho Indígena Tupinambá de Olivença (Cito), alega que não foi avisado sobre a chegada do artefato.

“Nós dizíamos que o manto não podia chegar no Brasil sem nós. Ele chegou sem nós e está até hoje sem nós no Museu Nacional. Estamos felizes por ele estar no Brasil, mas ao mesmo tempo tristes, porque ainda não fizemos nossa parte espiritual. Ele é um ser vivo, é a nossa história. Nós planejamos tudo isso [a recepção do manto pelos tupinambás] com nossos anciãos da aldeia e não aconteceu. Ele chegou sem a gente saber”, afirmou a cacique tupinambá Jamopoty, em entrevista à Agência Brasil.

Por sua vez, o Museu Nacional informou que antes de apresentar o manto à sociedade, seria preciso adorar uma série de procedimentos para manter a conservação da peça, que é sagrada e tem tamanha importância para os povos originários.

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Cerimônia

Segundo o Museu Nacional, a cerimônia onde o manto será apresentado para os Tupinambás está sendo organizada pelo Ministério dos Povos Indígenas.

Uma comissão de representantes dos Tupinambás chegará ao Rio de Janeiro para receber o manto, no dia 7 de setembro.

No início do mês de agosto, Alexandre Kellner, diretor do Museu, esteve presente em uma reunião com as lideranças Tupinambás na aldeia Itapoã, onde aconteceu um momento de tensão entre os envolvidos, porém, uma nota divulgada pelo Museu, negou qualquer conflito com as lideranças indígenas.

“A direção do Museu Nacional/UFRJ reforça que a disseminação de informações que não são verdadeiras, ou são retiradas de contexto, não estão de acordo com o momento histórico que vivemos, com o retorno do Manto ao Brasil que, a partir de agora, poderá ser reverenciado por todos os brasileiros.  O retorno do manto é uma importante conquista e uma oportunidade de união e celebração.”

Foto: Museu Nacional da Dinamarca/Divulgação

Memória

O manto é uma vestimenta de 1,80 de altura, confeccionada com penas vermelhas de guará sobre uma base de fibra natural. A peça chegou ao Museu Nacional da Dinamarca (Nationalmuseet) há mais de três séculos, em 1689. Calcula-se que a peça tenha sido produzida quase um século antes.

Além do valor estético e histórico para o Brasil, a doação da peça representa o resgate de uma memória transcendental para o povo Tupinambá, já que o manto é considerado por eles, um material vivo, capaz de conectá-los com os seus ancestrais e as práticas culturais do passado.

Acredita-se que o povo Tupinambá não confeccione esse manto há alguns séculos, já que ele só aparece nas imagens dos cronistas do século XVI.

Gustavo Campos: Nascido em Esmeraldas e criado em Betim. Formado em Jornalismo no ano de 2009 pelo Centro Universitário Newton Paiva, tem passagem como repórter pelas redações dos jornais O Tempo, Jornal Super Notícia e Jornal Aqui Betim. No Jornal Turismo de Minas, exerceu as funções de editor e repórter. Em ambas empresas, escreveu para as editorias de Cidades, Polícia, Gerais, Cultura e Gastronomia.